sexta-feira, 21 de setembro de 2012

CONSTRUCTOS AD LIB


Traz como principal foco a estruturação de um espetáculo artístico a partir de acontecimentos banais de cotidiano, com o objetivo de domar o olhar a perceber a beleza contida no singelo. Dentro desta lógica o publico é convidado a adentrar uma residência comum, sentar no sofá e gozar do conforto e da paisagem de um apartamento real, no centro da cidade. A partir desta premissa tudo que acontecer estará incluso e será concebido como parte da obra artística. O gorjear de um pássaro, os diversos sons urbanos, os ruído da vizinhança e mesmo a programação da tv. Toda a movimentação banal do cotidiano ganha aspecto poético e faz parte assumidamente desta complexa dramaturgia. A inserção dos atores é gradativa, e pode ou não mudar a tônica da encenação.

Paramentados na afluição harmônica do processo criacional, como movimentação, verbalização, racionalização e empirismo em geral, os atuantes podem somar dinamismo ao processo ou apenas se inserirem como mais um ponto de observação corriqueiro, sem apresentar indícios de teatralidade.

A concepção de CONSTRUCTOS ad lib. É proveniente do método de encenação e criação dramatúrgica O TEATRO IMEDIATO, criado por Nando Zâmbia e Thor Vaz que tem por característica a criação de espetáculos de maneira instantânea. A uma só vez todos os profissionais envolvidos produzem iluminação, trilha sonora e roteiro, construindo uma obra complexa a cada segundo de exposição ao publico, baseados no conceito de afluição da espetacularidade. Em determinados tempo\espaço anteriormente estabelecidos pelo artista, acontece o vislumbre da obra, a qual, pelo simples fato de estar estabelecida naquele tempo\espaço, acontece ainda que o artista seja impedido de estar presente, ainda que o publico seja impedido, pois ela é conceituada independentemente de outros fatores, independente do entendimento de terceiro ou da concepção de terceiros sobre ela, estando a mesma isenta de todos os padrões normativos que possam descaracterizá-la. Semelhante ao conceito de tempo, a obra não se descaracteriza ainda que não seja vista ou entendida.

O objetivo deste tipo de construção é desvencilhar-se das amarras do supérfluo e superficial, constantemente perceptíveis na construção dos espetáculos contemporâneos, muito comumente submersos em camadas de decorativas artimanhas de encenação e atuação que tornam cada vez mais comercial e industrial uma atividade antes sacra e ritualística. Trazendo á tona questões naturais e simples, fazendo com que o expectador se depare com seus próprios pensamentos, questione e revise seus conceitos de arte e de belo, na tentativa de ressignificar o próprio cotidiano, não por mimese ou representação, e sim pela observação e vivência do que é real, daquilo que não se pode narrar e daquilo que não se pode ver.  A intenção não é se livrar totalmente da poesia textual ou da interpretação de personagens em situações não comuns e sim vivencia-las de modo a deixar claro ao observador a realidade e realeza daquilo que se apresenta á sua frente. Dada a facilidade gerada pelos atuais meios de comunicação em disseminar as artes, sobretudo a arte cênica, e por conta da nossa perícia cada vez maior em decifrar e entender os símbolos da arte, os “truques” interpretativos e dramatúrgicos têm ficado cada vez mais perceptíveis, e por isso seu efeito é cada vez mais amenizado.  A sensação do d’javu artístico é cada vez mais permanente e a catarse cada vez mais rara. Dado este fato fez-se necessário a construção de um projeto pelo qual todas as lógicas fossem afrontadas, tanto limpar a obra de truques e facetas usados para ludibriar e conduzir o publico para um desfecho óbvio. Aqui, o interesse é desnudar o processo artístico e transformá-lo em vivência, em processo experimental que visa o verdadeiro arrebatamento através do inesperado, da verossimilhança, da reflexão em todos os seus sentidos. A ideia de rito volta em voga, não se tratando de entretenimento vulgarmente comercializado e sim de estudo e mergulho na própria existência. 





Co-criação de Willian Luemi e Ludmila Brandão
também com Willian Luemi 

Em cartaz durante os meses de março, abril e maio em São Paulo
 

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