Traz como principal foco a
estruturação de um espetáculo artístico a partir de acontecimentos banais de
cotidiano, com o objetivo de domar o olhar a perceber a beleza contida no
singelo. Dentro desta lógica o publico é convidado a adentrar uma residência comum,
sentar no sofá e gozar do conforto e da paisagem de um apartamento real, no
centro da cidade. A partir desta premissa tudo que acontecer estará incluso e
será concebido como parte da obra artística. O gorjear de um pássaro, os
diversos sons urbanos, os ruído da vizinhança e mesmo a programação da tv. Toda
a movimentação banal do cotidiano ganha aspecto poético e faz parte
assumidamente desta complexa dramaturgia. A inserção dos atores é gradativa, e
pode ou não mudar a tônica da encenação.
Paramentados na afluição
harmônica do processo criacional, como movimentação, verbalização,
racionalização e empirismo em geral, os atuantes podem somar dinamismo ao
processo ou apenas se inserirem como mais um ponto de observação corriqueiro,
sem apresentar indícios de teatralidade.
A concepção de CONSTRUCTOS ad
lib. É proveniente do método de encenação e criação dramatúrgica O TEATRO
IMEDIATO, criado por Nando Zâmbia e Thor Vaz que tem por característica a
criação de espetáculos de maneira instantânea. A uma só vez todos os
profissionais envolvidos produzem iluminação, trilha sonora e roteiro,
construindo uma obra complexa a cada segundo de exposição ao publico, baseados
no conceito de afluição da espetacularidade. Em determinados tempo\espaço
anteriormente estabelecidos pelo artista, acontece o vislumbre da obra, a qual,
pelo simples fato de estar estabelecida naquele tempo\espaço, acontece ainda
que o artista seja impedido de estar presente, ainda que o publico seja
impedido, pois ela é conceituada independentemente de outros fatores,
independente do entendimento de terceiro ou da concepção de terceiros sobre
ela, estando a mesma isenta de todos os padrões normativos que possam
descaracterizá-la. Semelhante ao conceito de tempo, a obra não se
descaracteriza ainda que não seja vista ou entendida.
O objetivo deste tipo de
construção é desvencilhar-se das amarras do supérfluo e superficial,
constantemente perceptíveis na construção dos espetáculos contemporâneos, muito
comumente submersos em camadas de decorativas artimanhas de encenação e atuação
que tornam cada vez mais comercial e industrial uma atividade antes sacra e
ritualística. Trazendo á tona questões naturais e simples, fazendo com que o
expectador se depare com seus próprios pensamentos, questione e revise seus
conceitos de arte e de belo, na tentativa de ressignificar o próprio cotidiano,
não por mimese ou representação, e sim pela observação e vivência do que é
real, daquilo que não se pode narrar e daquilo que não se pode ver. A intenção não é se livrar totalmente da
poesia textual ou da interpretação de personagens em situações não comuns e sim
vivencia-las de modo a deixar claro ao observador a realidade e realeza daquilo
que se apresenta á sua frente. Dada a facilidade gerada pelos atuais meios de
comunicação em disseminar as artes, sobretudo a arte cênica, e por conta da
nossa perícia cada vez maior em decifrar e entender os símbolos da arte, os
“truques” interpretativos e dramatúrgicos têm ficado cada vez mais
perceptíveis, e por isso seu efeito é cada vez mais amenizado. A sensação do d’javu artístico é cada vez
mais permanente e a catarse cada vez mais rara. Dado este fato fez-se
necessário a construção de um projeto pelo qual todas as lógicas fossem
afrontadas, tanto limpar a obra de truques e facetas usados para ludibriar e
conduzir o publico para um desfecho óbvio. Aqui, o interesse é desnudar o
processo artístico e transformá-lo em vivência, em processo experimental que
visa o verdadeiro arrebatamento através do inesperado, da verossimilhança, da reflexão
em todos os seus sentidos. A ideia de rito volta em voga, não se tratando de
entretenimento vulgarmente comercializado e sim de estudo e mergulho na própria
existência.
Co-criação de Willian Luemi e Ludmila Brandão
também com Willian Luemi
Em cartaz durante os meses de março, abril e maio em São Paulo