segunda-feira, 1 de outubro de 2012

tchubogas

          Estou cercado, parceiro, em ilha deserta repleta de areia. A mariola me hipnotizando, um jogo perigoso que fui submetido,quase adormecido e entorpecido embaixo deste sol escaldante, frio frio. O horizonte distante, estou quase batendo braço rumo ao infinito, correndo o risco de nadar nadar nadar e nem chegar na outra margem. Se chegar na outra margem menos mal, estarei presente,serei cuidado, mas se ficar fechado no mar aberto estou perdido. Ou posso ficar aqui tentando ser visto por algum barquinho que passe rente a costa, quem sabe um transatlântico piscando suas luzes de ano novo!
          Em todo caso esta não me parece uma oportunidade tão má para que eu recomece meus estudos sobre um rito particular. Talvez aqui eu possa fazer com que meu teatro evolua em prol de uma consciência e sensibilidade extra-comuns, sem ser perturbado. Aqui poderei tentar construir meus fogos, criar asas e transcender, levando comigo os segredos que aqui emergirem e me elucidarem, me salvarem das trevas. Mas como segredos são secretos, permanecerei só. Voltamos a máxima Shakesperiana.
Foda-se a gramática,tenho só um graveto como carvão e a areia úmida como couchê, foda-se a escrita.
          Se decido seguir a nado talvez passe um barco e me resgate me devolvendo a outra margem, me largando com meus conhecimentos desvendados, me acenando, eu muito grato olhando o barco se afastar e ainda lanço uma garrafa com um bilhete para que seja depositada na mesma ilha em que estive para que sirva de palpite a um outro próximo náufrago que precise. E sumo ou desponto, isso não se saberá pois o bilhete permanecerá no anonimato.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

CONSTRUCTOS AD LIB


Traz como principal foco a estruturação de um espetáculo artístico a partir de acontecimentos banais de cotidiano, com o objetivo de domar o olhar a perceber a beleza contida no singelo. Dentro desta lógica o publico é convidado a adentrar uma residência comum, sentar no sofá e gozar do conforto e da paisagem de um apartamento real, no centro da cidade. A partir desta premissa tudo que acontecer estará incluso e será concebido como parte da obra artística. O gorjear de um pássaro, os diversos sons urbanos, os ruído da vizinhança e mesmo a programação da tv. Toda a movimentação banal do cotidiano ganha aspecto poético e faz parte assumidamente desta complexa dramaturgia. A inserção dos atores é gradativa, e pode ou não mudar a tônica da encenação.

Paramentados na afluição harmônica do processo criacional, como movimentação, verbalização, racionalização e empirismo em geral, os atuantes podem somar dinamismo ao processo ou apenas se inserirem como mais um ponto de observação corriqueiro, sem apresentar indícios de teatralidade.

A concepção de CONSTRUCTOS ad lib. É proveniente do método de encenação e criação dramatúrgica O TEATRO IMEDIATO, criado por Nando Zâmbia e Thor Vaz que tem por característica a criação de espetáculos de maneira instantânea. A uma só vez todos os profissionais envolvidos produzem iluminação, trilha sonora e roteiro, construindo uma obra complexa a cada segundo de exposição ao publico, baseados no conceito de afluição da espetacularidade. Em determinados tempo\espaço anteriormente estabelecidos pelo artista, acontece o vislumbre da obra, a qual, pelo simples fato de estar estabelecida naquele tempo\espaço, acontece ainda que o artista seja impedido de estar presente, ainda que o publico seja impedido, pois ela é conceituada independentemente de outros fatores, independente do entendimento de terceiro ou da concepção de terceiros sobre ela, estando a mesma isenta de todos os padrões normativos que possam descaracterizá-la. Semelhante ao conceito de tempo, a obra não se descaracteriza ainda que não seja vista ou entendida.

O objetivo deste tipo de construção é desvencilhar-se das amarras do supérfluo e superficial, constantemente perceptíveis na construção dos espetáculos contemporâneos, muito comumente submersos em camadas de decorativas artimanhas de encenação e atuação que tornam cada vez mais comercial e industrial uma atividade antes sacra e ritualística. Trazendo á tona questões naturais e simples, fazendo com que o expectador se depare com seus próprios pensamentos, questione e revise seus conceitos de arte e de belo, na tentativa de ressignificar o próprio cotidiano, não por mimese ou representação, e sim pela observação e vivência do que é real, daquilo que não se pode narrar e daquilo que não se pode ver.  A intenção não é se livrar totalmente da poesia textual ou da interpretação de personagens em situações não comuns e sim vivencia-las de modo a deixar claro ao observador a realidade e realeza daquilo que se apresenta á sua frente. Dada a facilidade gerada pelos atuais meios de comunicação em disseminar as artes, sobretudo a arte cênica, e por conta da nossa perícia cada vez maior em decifrar e entender os símbolos da arte, os “truques” interpretativos e dramatúrgicos têm ficado cada vez mais perceptíveis, e por isso seu efeito é cada vez mais amenizado.  A sensação do d’javu artístico é cada vez mais permanente e a catarse cada vez mais rara. Dado este fato fez-se necessário a construção de um projeto pelo qual todas as lógicas fossem afrontadas, tanto limpar a obra de truques e facetas usados para ludibriar e conduzir o publico para um desfecho óbvio. Aqui, o interesse é desnudar o processo artístico e transformá-lo em vivência, em processo experimental que visa o verdadeiro arrebatamento através do inesperado, da verossimilhança, da reflexão em todos os seus sentidos. A ideia de rito volta em voga, não se tratando de entretenimento vulgarmente comercializado e sim de estudo e mergulho na própria existência. 





Co-criação de Willian Luemi e Ludmila Brandão
também com Willian Luemi 

Em cartaz durante os meses de março, abril e maio em São Paulo
 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

AS INQUISIÇÕES DO MISSIONÁRIO SIMÃO BACAMARTE

sinopse:

"Desce do carro dos Caiacós, chega de cartola, traz os diplomas. Desfila de casaca sobre nós espichando-se á bengala, um faz-de-conta. O caricato era sempre recalcado, há quem ouvisse certo grave de sua voz. Teus bigodes em debucho penteados rente a seus cabelos bardos traçando fama de anti-herói. Conta os atos mais consumidos que este homem tão disforme solfejava sonetos canônicos e civis publicados ás leis de Deus. Fora chamado para administrar uma santa casa Inquisitória das leis do Papa, não tardou em começar a lançar sobre todas as fogueiras os negros, bichas, lésbicas e Mean Mister Mustard. Não obstante após um tempo no missionário começou a conclamar os baixos clérigos, provando estupro, hordas e corrupção rente ao receio do concílio em absolvê-los. E assim se foram aos muitos pela chama e Bacamarte pelo povo aclamado em óperas barítonas já partidário do governo Libanês. O papa sem custar a acreditar resolveu por suicidar-se áquela trama injerindo vasta dose de vinho casto furtadas do cálice sacro seguindo as tábuas outorgadas a Moisés."

Agora velho e esquálido tem problemas de locomoção e fala. Seu apartamento é vazio, mas ele ainda tem muitos cabelos. O gato ele ama.
O homem é mau e morre no final. Por que quem é ruim merece morrer.

"AS INQUISIÇÕES DO MISSIONÁRIO SIMÃO BACAMARTE"




Criação conjunta com Leopoldo Vaz Eustáquio

O NÓRDICO

Sobre nossa intenção:
   Despir-se dos trejeitos e disfarces tão comumente usados no teatro tradicional, desviar o foco artístico intelectual e concentrar-se na ritualização incrustada na cultura, basear-se nas crenças do homem simples para a construção do teatro. Trabalhar em cima do que é estritamente e extremamente real, construir uma ilusão paradoxal a partir da realidade, confundir o sentido do ilusionismo presente na teatralidade, confundir o sentido da interpretação cênica. Viver o momento, cada segundo do encontro artístico e divino. Dividir o rito, olhar o publico como participante ativo sensitivamente, sair da condição de exposição artística e tornar-se veículo de ligação com o sagrado. Re-signifcar a arte teatral ao que já fora a tempos atrás. Tornar-se ministrante, patrono, homem santo, ser atuante e não ator.


Trazendo também os músicos Leopoldo Vaz Eustáquio, Tomaz Motta e Marcos Gomes.

Em cartaz em Salvador (2010) e São Paulo (2011)

A partir do método TEATRO IMEDIATO

A INVENÇÃO DO TEATRO

Um grande encontro onde a performance e a música dividem o mesmo espaço com o pretexto de criar uma obra artística. Ator e platéia unidos na feroz empreitada que é a construção de um espetáculo teatral. Junto com o publico um homem aparentemente comum chega ao teatro e de repente se denuncia solo e praticante. Subindo ao palco ele e os seus músicos expõem-se aos olhares atentos da multidão que espera algo genial. Eles não sabem o que será feito e no que resultará a experiência, e ai está o clímax, desfecho, e o grande motivo de viver.

“não sei o que fiz e nem o que me será feito, mas tanto faz. Mesmo só me acho quando me encontro perdido.”

sexta-feira, 4 de junho de 2010

PROCESSO DE CRIAÇÃO, SÁBADO DIA 29

Excepcionalmente neste sábado não utilizei nenhuma frase dita pelo publico, foi uma espécie de branco repentino (muito conveniente) que me deu. Ao contrário, fui criando aleatoriamente e de forma muito espontânea, em rajadas criativas, a estória do nosso último sábado no Gamboa.
Noticiamos a morte de um desembargador muito influente, com envolvimento na política e de grande popularidade.
Em paralelo contamos a história de um jovem lavrador, cujo pai falecera repentimanente, aparentemente por conta de uma doença propicia de sua velhice.
No decorrer da apresentação essas duas estórias se entrelaçaram e o suspense criado a partir deste preâmbulo foi ganhando um quê de drama policial. Como pano de fundo as ferramentas meta-teatrais constantemente exploradas.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

EU FAÇO O MELHOR TEATRO DO MUNDO. EU AINDA NÃO TIVE O PRAZER DE ASSISTIR NADA DE MAIS INOVADOR, OU MAIS COMPETENTE, JUSTAMENTE PELO FATO DE QUE EU SOU O MAIS SINCERO. O MAIS FRANCO COM AQUILO QUE INTITULO MINHA ARTE. A PERFORMANCE DE ME AUTO-DENOMINAR ATOR/ENCENADOR/DRAMATURGO AO MESMO TEMPO QUE EXPONHO A OLHOS NUS A MINHA MANUFATURA INSTANTÂNEA, MINHA MATEMÁTICA VIVA, É O QUE ME TORNA ESPECIAL AOS OLHOS ALHEIOS, JÁ QUE ME FEZ ESPECIAL AOS MEUS OLHOS. SER FELIZ NO QUE SE FAZ É MAIS DO QUE ATUAR EM UMA ÁREA ESPECÍFICA, MAIS DO QUÊ "O QUE SE FAZ" ESTÁ EM JOGO O "COMO SE FAZ". A ATENÇÃO QUE DESPRENDI PARA ENTENDER O MEU PRÓPRIO GOSTO EXCÊNTRICO E EXTRAVAGANTE FAZ-ME MERECEDOR E DESCOBRIDOR DO TESOURO. AGORA SOU PIRATA EM MARES ESTRANHOS, CUJA EMBARCAÇÃO É CARREGADA EM DIREÇÕES DIVERSAS POR VENTANIAS VIOLENTAS, MAS ESTAR NO COMANDO DO LEME, PODENDO DECIDIR SOBRE AS VELAS, JÁ ME FAZ OTIMISTA DE ENCONTRAR LÁ NA FRENTE TERRA FIRME. O FATO DE SABER NADAR TAMBÉM ME ENCORAJA A SER DESTEMIDO.